por
Antonio Prata, Seção:
Crônica do Metrópole 17:30:54.
No último domingo, meu pai me telefonou. Fiquei contente, não só porque ele mora em Floripa e sinto saudades, mas por saber que uma ligação sua nunca é para tratar de assuntos sérios. Meu pai desistiu de falar sério lá por 1991. No começo, eu briguei com ele, achava que era preciso falar sério de vez em quando. Hoje, já não tenho tanta certeza e quando vejo o prefixo 48 no meu celular, abro um sorriso, esperando ouvir sobre uma partida incrível do Figueirense, no estádio da Ressacada, uma versão engraçada do jogo Tetris, que ele encontrou na internet, ou uma nova teoria que ele vem desenvolvendo, lá na varanda dele, de frente para o mar. No último domingo, era teoria.
Começou, como de costume, com uma frase pouco razoável, dita com a maior naturalidade: “Telefone é uma invenção que não deu certo”. Conhecendo bem meu pai, sabia que meu papel era demonstrar assombro, talvez até uma ponta de indignação, para que ele desse seqüência ao raciocínio: “Como assim, não deu certo, pai?!”. Calmo e seguro, ele continuou. “Telefone fixo, desses presos na parede? Não deu certo! Em primeiro lugar, a chamada nunca era pra quem atendia. Ficava aquela gritaria: “cadê fulano? Alguém viu fulano?”. Ou fulano tinha saído, ou tava “ocupado” – era o que a gente dizia quando alguém estava no banheiro. Aí, tinha que anotar o recado, a BIC não funcionava, o bloquinho havia sumido... Esquecia-se de dar o recado. Cada briga que dava por conta de recados não dados! Divórcios, até. Sem falar naquele fio enroladinho, cruzando a sala, só pra gente tropeçar. Mas pior que tudo, meu filho, era telefone com mau hálito. Lembra? O bafo que saía por aqueles furinhos! Um bafo de avô, não, de tio avô! Tio avô dos outros! Ainda bem que em dois, três anos, ninguém mais vai ter telefone fixo!”.
Quando meu pai terminou, sugeri que escrevesse essa crônica. “Não, filho. Escreve você. Presente de natal”. Aceitando-a, perguntei se havia outros objetos cuja obsolescência ele percebera, lá de sua varanda. “Não é bem objeto, mas tem o hino nacional. Só serve pra duas coisas: humilhar jogador de futebol e ferrar vestibulando. Tinha que trocar por Aquarela do Brasil. Imagina só, que beleza? Outra bobagem que precisa acabar é minuto de silêncio. Banalizou. Hoje em dia, morre o avô do ex-conselheiro da portuguesa, o primo do gandula, todo mundo tem que ficar quieto? Um absurdo!”. Agradeci. Desejamos feliz natal e desligamos, contentes com a conversa.
No dia seguinte, havia um recado no meu celular, bem ao estilo do meu pai, sem oi ou qualquer apresentação: “E aquelas três ligações pra Cachoeiro do Itapemirim, de R$ 16,58 cada, que a Dona Lurdes jura não ter ideia de quem fez?! Ainda dá tempo de botar na crônica?”.